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QUANDO O TRABALHO LEVA AO SUICÍDIO

suicídio

Setembro é o mês de prevenção ao suicídio. É uma campanha criada pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), chamada de Setembro Amarelo.

Sobretudo, é um assunto muito delicado, mas que deve ser enfrentado pela sociedade. E essa reflexão ganha ainda mais importância depois de recentes notícias de suicídios envolvendo assédio moral.

Casos de suicídio relacionado ao trabalho

No final de junho, um analista jurídico de 48 anos do Ministério Público de São Paulo cometeu suicídio na sede do órgão. Uma denúncia feita ao Conselho Nacional do Ministério Público revelou que o servidor tinha depressão e sofria assédio moral. A denúncia ainda relatou a existência de vários servidores com problemas da mesma ordem.  Desgastes de saúde mental e física, sobrecarga de trabalho, intensa pressão pela produtividade e critérios desproporcionais de avaliação pessoal foram as causas apontadas.  

Em outro caso, no começo de agosto, um estagiário de um escritório de advocacia com sede em São Paulo pulou do 7º andar durante seu horário de expediente. Felizmente, o jovem sobreviveu.

Segundo a imprensa, o estagiário estava “sofrendo muita pressão, trabalhando com prazos bizarros para cumprir e que no final do dia, após perder um prazo, recebeu uma bronca de uma das sócias que foi a gota d’água, quebrou a tranca da varanda e pulou”.

Ambiente tóxico e suicídio

Sem dúvida, o risco de suicídio relacionado ao trabalho faz soar um alerta. Essas notícias revelam que o ambiente de trabalho pode gerar problemas de saúde física e mental. Na maioria das vezes, essas situações são decorrentes de jornadas de trabalho extensas, pressão para atingimento de metas, assédio moral e sexual.

A quantidade de horas trabalhadas, a produtividade e os resultados ainda são os critérios mais usados para a avaliação do empregado, independentemente da forma como eles são alcançados, o que gera um ambiente de trabalho hostil e deletério, que pode levar à depressão e até ao suicídio.

Conectados e exaustos

Diante das novas formas de trabalho, pelas quais é possível estar conectado a qualquer momento, estamos diante de uma nova realidade, pela qual o trabalhador acaba extrapolando os limites de tempo e espaço na prestação de serviços.

Dessa forma, temos algo novo nas relações de trabalho, ante a conexão permanente, que não cessa no horário normal de trabalho. Isso acaba invadindo os momentos de descanso e lazer, bem como interferindo no convívio familiar. Quantas vezes não nos vemos lendo mensagens corporativas no WhatsApp ou no e-mail durante uma refeição? Ou mesmo à noite, antes de dormir ou nos finais de semana?

Acima de tudo, isto gera uma sobrecarga de trabalho. E a situação é agravada pelo assédio dos superiores hierárquicos, que impõem trabalho acima do humanamente possível, o que estabelece um sentimento no empregado de que ele não é capaz de alcançar as perspectivas do empregador.

Por consequência, essas circunstâncias, aliados a outros fatores, criam estrese mental, que pode causar problemas de saúde ao empregado e até o suicídio. Pesquisas atuais informam o aumento de problemas de ansiedade, depressão e esgotamento físico e mental em ambientes corporativos.

Ambientes mais saudáveis para evitar o suicídio

Por isso, os empregadores devem estar atentos a essa nova realidade, criando mecanismos que permitam identificar situações que prejudiquem a saúde de seus colaboradores. Um exemplo, é um canal de denúncias aberto a todos os empregados.

Além disso, é necessário desenvolver ferramentas de prevenção a abusos e assédios moral e sexual, bem como a realização de cursos e palestras para debater esses assuntos dentro da empresa. A empresa precisa ter uma postura proativa para evitar a depressão e o suicídio.

Inegavelmente, tudo isso é importante para garantir um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O objetivo é criar ambiente de trabalho saudável e seguro, onde o empregado se sinta feliz, confiante e integrado aos propósitos corporativos.

*Sócio do De Bellis Advogados Associados. Especialista em Direito do Trabalho. 

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